O jogo Caminho do Futuro é uma tecnologia social que sistematiza a sua metodologia em um jogo de tabuleiro colaborativo, que é composto por 6 passos, e cada um deles tem associado o desenvolvimento de uma habilidade socioemocional, que está em consonância com a BNCC e as suas 10 competências gerais. Vale registrar que estas habilidades se dão de maneira cumulativa e que, ao final, todas elas serão necessárias para a continuidade do projeto.
Foca no desenvolvimento da consciência do coletivo, haja vista que é importante que eles se vejam como parte de um todo, que entendam o impacto de suas atividades e respeitem o seu entorno.
busca enfatizar a ideia de que os jovens devem “tecer juntos”. Neste momento, trabalha-se a colaboração, pois “colaborar” não é sinônimo de ajudar/partilhar, mas dividir o papel/as responsabilidades. As finalidades são: descobrir a melhor versão de si mesmos e organizar um evento colaborativo para toda a escola.
o desenvolvimento da empatia é essencial. É por meio dela que os estudantes conseguem perceber quais os problemas do entorno que podem resolver. Para iniciar este passo, dispara-se a pergunta: “Se você tivesse um mês para transformar o mundo, o que faria?”. É comum os estudantes trazerem soluções padrões baseadas na caridade (dar comida e roupa, ir ao orfanato brincar com as crianças, etc.). Mas, nestas situações, eles são instigados a irem além do senso comum, além da caridade, porque esta não somente não transforma o mundo, como mantém as relações sociais desiguais. Com base em suas ideias, eles são provocados a desenvolverem projetos que gerem transformação social, promovendo uma sociedade sem desigualdade no tratamento com o outro e que esteja articulada com o currículo escolar.
é o passo centrado na autonomia, que é a capacidade de se conduzir e de tomar decisões por si mesmo, levando em conta regras, valores, perspectiva pessoal, bem como a do outro. Aqui, os jovens experimentam um intenso trabalho em equipe, cheio de desafios. A autonomia acontece quando a gestão das relações permite a afirmação do sujeito na concretização de projetos. Os objetivos passam por procurar ferramentas de planejamento mais adequadas ao sonho, traçar um plano com uma meta semanal, cumprir o cronograma de atividades planejadas (elaboração de um CANVAS) e resgatar o olhar da abundância, elencando todos os recursos necessários.
Os estudantes colocarão a “mão na massa” para concretizarem seus sonhos, vendo o fruto do seu trabalho. Desenvolvem-se as habilidades autoestima e confiança e se tem como objetivos colocar em prática o projeto para fazê-lo acontecer e celebrar a realização, tanto na esfera da concretização do projeto, quanto no autoconhecimento (a experiência do Jogo “Caminho do Futuro” permite que, através de uma relação afetiva significativa, eles desenvolvam iniciativa e liderança).
Como tudo o que se faz no Caminho do Futuro é decorrente daquilo que os alunos criam e planejam, o evento final para o fechamento do jogo foi idealizado por eles e se chama “Sonhatura” (formatura dos sonhos). Nela, unem-se todos que estão envolvidos na tecnologia social (escolas, alunos, professores, funcionários, famílias, comunidades etc.) para que os educandos apresentem os seus sonhos e como se deram os caminhos. Este evento tem a função de reafirmar e tornar pública a autonomia e o empoderamento dos jovens.
O relatório Education at a Glance 2021 (OCDE) alega que 13% dos jovens brasileiros, de 18 a 24 anos, não estudam e não têm emprego. Além disso, dados do IBGE (2019) mostram que trabalhadores negros têm mais dificuldade de encontrar um emprego e, quando conseguem, recebem até 31% menos. Ademais, a Pnad Contínua (IBGE, 2020) pontuou que 8,9 milhões de homens e mulheres ficaram desempregados, sendo 6,4 milhões pessoas negras. Se focarmos apenas nos jovens negros, percebemos que 4,36 milhões dos desempregados do Brasil são jovens (14 a 29 anos) negros. Além disso, 65% (dos 23,7 milhões) dos jovens que não estudam nem concluíram o ensino superior são negros. Na pesquisa social IBGE (2018) fica claro que apenas 29,9% dos cargos gerenciais são ocupados por pessoas negras ou pardas.
Ao longo dos anos de atuação com jovens periféricos, conhecemos inúmeras crianças e adolescentes inspiradores e admiráveis, que só precisam de uma chance para romper com o ciclo da pobreza. E se houvesse essa chance e eles pudessem inspirar mais jovens? Assim, romperiam inúmeros ciclos de pobreza, de exclusão social e incluiriam muitos jovens no mundo do trabalho digno.
Diante de todo esse cenário, a Associação Movimento Futuro criou o projeto “Somando com o Futuro”, que atua como possibilitador de transformação social, com ingresso digno no mundo do trabalho, valorizando os saberes periféricos e sendo exemplo para ainda mais estudantes. Por meio do projeto, dois jovens, que participaram do jogo Caminho do Futuro quando eram estudantes da escola pública, se tornam facilitadores, de modo que passem a empoderar outros jovens a conquistarem os seus sonhos com a perspectiva do aprender na prática, lutando por uma educação de qualidade e por um futuro com mais possibilidades. Isso permite o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e outras fundamentais para o mundo do trabalho.
Os jovens facilitadores contam com a formação e acompanhamento das diretoras da Associação Movimento Futuro, que compartilham seus conhecimentos e experiências, a fim de auxiliar na realização do projeto. Durante o projeto, os jovens facilitadores são remunerados para executarem essas aulas e ações, o que lhes permite ter uma fonte de subsistência mais sólida e estável para a realização de seus sonhos e suporte à sua família.
O que torna a iniciativa tão marcante é que, por serem moradores da comunidade e ex-alunos da escola, os facilitadores já são vistos em uma relação mais igualitária com os estudantes, fazendo com que o trabalho seja ainda mais significativo.
O projeto Agora visa acompanhar o trabalho solidário de professores dentro das escolas, de todos os segmentos da educação básica, para que eles possam ser potencializados e enquadrados na pedagogia da aprendizagem solidária. Isto é, as escolas desenvolvem projetos solidários, porém nem sempre eles são protagonizados pelos estudantes e por isso eles não se desenvolvem como esperado; ou, os projetos não têm uma relação com a comunidade e não atendem problemas reais e por isso também não obtêm os resultados esperados. Assim, o acompanhamento com os projetos permite identificar os problemas dos projetos solidários, formar os professores para que possam em conjunto com os estudantes e comunidade resolver problemas reais; através de reuniões periódicas, compartilhamento de materiais de estudo e prática na metodologia da aprendizagem solidária. Tudo isso em articulação com o currículo previsto na BNCC, ou seja, trazendo luz para o que os estudantes aprendem na escola, acreditando que todo o conhecimento da escola é importante para a comunidade.
A introdução do componente curricular projeto de vida no currículo do Ensino Médio validou a proposta pedagógica do jogo Caminho do Futuro, porque dentro do projeto já se trabalhava com a perspectiva (Eu, Outro e o Nós). Assim, as diretoras da Associação traduzem a sua experiência de facilitação de sala de aula com dinâmicas de grupo e com projeto de vida. Até agora foram três manuais que podem ser encontrados em escolas públicas e privadas do Brasil.
As formações de professores são realizadas de forma virtual e presencial um pouco por todo o Brasil, com os objetivos de compartilhar metodologia de trabalho, experiências e conhecimento. As formações são para educadores, pessoas interessadas em educação, em aprendizagem solidária ou que queiram trabalhar com adolescentes.
A experiência de desenvolvimento de projetos com adolescentes trouxe a capacidade de identificar e viabilizar boas práticas pedagógicas. Assim, as diretoras da Associação também avaliam prêmios que visam a temática do seu trabalho para contribuir com o seu conhecimento, inclusive, avaliaram o 1º Prêmio de Aprendizagem Solidária – experiências que transformam.